A audiência dos famigerados, incultos, fúteis,
essencialmente desnecessários e dispensáveis programas tipo reality show, a expressiva
tiragem das revistas que “mexericam” a vida das celebridades e a popularização
dos blogs e das redes sociais não deixam dúvidas: o ser humano tem imenso
prazer em saber e comentar a respeito da vida alheia. Muito antes que existisse
imprensa, TV ou Internet, já era assim, como mostra Lucas no livro de Atos, no
capítulo 17, verso 21, quando diz que os atenienses de seu tempo “de nenhuma
outra coisa se ocupavam senão de dizer e ouvir alguma novidade”. O apóstolo
Paulo se valeu disso para anunciar-lhes o Evangelho, mas recomendou que Timóteo
tivesse cuidado com esse hábito terrível, observado em mulheres “paroleiras e
curiosas”, que andavam de casa em casa, “falando o que não convém” (1Tm 5:13).
Assim, fica a pergunta: falar da vida alheia faz parte dos
instintos naturais humanos ou é apenas um hábito adquirido ao longo da vida?
Entendamos que o termo “fofoca”, propriamente dito, não diz respeito,
necessariamente, a todo e qualquer comentário sobre a vida alheia, mas, sim, ao
falatório maldoso, que dissemina histórias verídicas ou não a respeito de
outrem. O falatório maldoso é um comportamento destrutivo, porque leva temas
privados ao domínio público, expondo, deliberadamente – e sem qualquer
propósito positivo -, a intimidade de alguém.
A “arte” de fofocar é a expressão de vazio existencial
Segundo o escritor norte-americano Joseph Epstein (em entrevista à revista Época no ano passado), autor do
livro “Gossip” (Fofoca, em inglês, acho que a obra ainda não tem tradução no
Brasil), falar dos outros é uma inclinação natural do ser humano. Sob esse
prisma, não há assunto mais interessante que a vida dos outros. Analisar erros,
pretensões, hipocrisias, defeitos nos outros é uma delícia. É muito difícil evitar
a fofoca e os temas relacionados à questão sexual são os principais tópicos das
fofocas. Temos uma grande dificuldade de lidar com a sexualidade, pois esse
tema traz toda uma carga de repressão e culpa, e falar do eu é proibido tem um
tempero especial. Falar da vida alheia é prazeroso, sim, mas como qualquer
outra coisa que nos dá prazer. É uma prática tão prazerosa que a fofoca
expressada em todas as plataformas midiáticas ganha milhões, porque têm um
público que consome esse tipo de notícia. Até o segmento gospel ganhou seu “legítimo”
representante, o site “O Fuxico Gospel”!
A inveja é um grande motor para a fofoca – todo fofoqueiro é
invejoso –, pois gera no indivíduo a motivação para falar do outro. Jesus Se
irritava com os fariseus nesse quesito. Quando ouviram o Mestre que Ele era o
Cristo, tentaram desmoralizá-lO; como não deu certo, buscaram matá-lO. O
fofoqueiro age carnalmente sob a influência de satanás com a intenção – direta ou
indireta – de destruir a outra pessoa por vingança, ódio e falta de amor. A web
é uma grande ferramenta para a disseminação de informações a respeito de si e
da vida alheia. O fofoqueiro é alguém vazio e sem sentido na vida, que busca no
outro a satisfação que não encontra na própria existência. É fato que, em todos
os segmentos da sociedade, existem aqueles que gastam seu tempo para cuidar da vida
dos outros e se sentem queridos e importantes por saberem da vida de todos, mas
quero crer que muitos têm caminhado com Cristo e entendido que isso é um jeito
triste, miserável e mesquinho de viver. O falatório maldoso é um comportamento
destrutivo, porque leva temas privados ao domínio público, expondo,
deliberadamente – e sem qualquer propósito positivo –, a intimidade de alguém.
A fofoca é uma arma letal na destruição da comunhão e da unidade no ceio da
Igreja.
Ao fofoqueiro o que é do fofoqueiro
Fofoca É PECADO (Pv 6:16-19). As consequências desse comportamento pecaminoso certamente
virão. Não podemos nos esquecer da lei física e espiritual da semeadura: se
falo dos outros, um dia alguém falará de mim. E, obviamente, a colheita será em
espécie da semente semeada (Lucas 6:36-38 e, conforme Romanos 2:1).
Esse fenômeno social do “disse me disse”, vendo-o como
natural, é simplesmente ficar indiferente à moral e à ética. Somos da geração
dos modernos reality shows, em que nossa juventude cresce sendo convidada a “dar
uma espiadinha” em criaturas que vivem em casas (ou “fazendas”) de vidro,
cercados por câmeras em diversos ângulos, onde a fofoca, inveja, disputa, traição,
vulgaridade e promiscuidade andam de mãos atreladas. Fofoca, obviamente, é uma conversa de dois
interlocutores: quem fala e quem ouve (e comenta, espalha, compartilha, curte)
o disse me disse, e na maioria esmagadora dos casos, não consulta a fonte. Assim,
a maneira mais fácil de lidar com o mexerico seja não dar ouvidos ao
fofoqueiro.
Como consequência direta da queda, o hábito de falar acerca
da vida alheia faz parte da história da humanidade desde tempos imemoriais e,
assim como qualquer pecado, precisa ser evitado pelo cristão, como exorta a
Palavra de Deus em 1 Pedro 3:8-11, conforme Tiago 3.
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