Ads 468x60px

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Tragédia da Gameleira, impunidade histórica no limbo do esquecimento

Certamente muitos dos que hoje passam pelo Expominas, imponente centro de exposições no bairro Gameleira, região oeste de Belo Horizonte, não imaginam o que está encoberto debaixo da futurística arquitetura. Lá debaixo foi literalmente sepultado sob escombros o sonho de muitos brasileiros, muitos "Zés Ninguém" que nunca tiveram a chance de ser alguém. Lá foi sepultado debaixo da lage que ruiu o futuro de muitas donas Maria, seus Zezinhos e Mariazinhas. Lá também estão os restos mortais do senso de justiça de pessoas ricas, influentes, políticos eloquentes e empresários gananciosos.   

Conheça a história da maior tragédia da construção civil em Minas Gerais
Uma tragédia de proporção gigantesca abalaria a capital dos mineiros em 4 de Fevereiro de 1971 que ficaria conhecido como o maior acidente da construção civil brasileira. Naquele ano o Parque de Exposição Bolivar de Andrade, conhecido como Parque da Gameleira, passava por obras. Uma dessas obras era a construção de um pavilhão. Para isso foi contratado o arquiteto Oscar Niemeyer e o engenheiro Joaquim Cardozo, ambos já tinham trabalhado em Belo Horizonte no complexo arquitetônico da Pampulha e no conjunto JK.

O governador da época era Israel Pinheiro que vivia seus últimos momentos no cargo, ele deixaria o Palacio da Liberdade em 15 de março. Como todo político, Israel, queria deixar um legado do seu governo. O legado seria a entrega do moderno pavilhão da Gameleira. Mas, as obras não estavam prontas. Com esse atraso o governo começou a pressionar os trabalhadores para que as obras terminassem antes do final do mandato. Operários já vinham alertando o governo sobre fissuras e estalos nos alicerces. Sem ouvir os operários o governo mandou retira as vigas de sustentação. Toda estrutura desabou. Cerca de 10 mil toneladas vieram abaixo.

Com a queda da estrutura 69 operários morreram e houve pelo menos 100 feridos. O registro de mortos é restrito aos corpos resgatados dos escombros. O numero não inclui os óbitos posteriormente, nos hospitais. Na época surgiram boatos de que vários outros operários teriam ficado soterrados esses corpos nunca foram encontrados. O acidente gerou uma comoção em toda cidade.

As vitimas e os familiares

Cerca de 512 operários estavam naquele dia no campo de obra. Como já era quase hora do almoço alguns já estavam se preparando para almoçar. Já outros operários preferiram aproveitar a sombra proferida pela laje  para comerem suas marmitas e descansarem. Um desses trabalhadores foi Manoel Firmo de Souza de 44 anos. Casado e pai de dois filho Manoel sustentava a família com o seu trabalho. Sua viuva Dona Elza Soares de Souza só ficou sabendo da tragédia por uma vizinha. Como na época não tinha um aparelho de rádio em casa coube a vizinha relatar o acontecido. Segundo Dona Elsa quando soube do desastre imediatamente correu para o local em busca de noticias do marido. Mas, a noticia que Dona Elsa não queria ouvir veio no final de Fevereiro quando um assistente social esteve em sua casa para confirmar a morte do seu marido. Até hoje quando vai chegando final de janeiro e inicio de fevereiro Dona Elsa começa a lembrar dos dias difíceis que passou e da saudade que senti pela volta do companheiro.

Antonio Sebastião dos Santos foi um dos sobreviventes da tragédia da Gameleira. O pedreiro de 64 anos admiti que as lembranças dos acontecimentos se perderam com o tempo mas tem uma coisa que o deixa muito triste. Segundo esse mineiro de Ponte Nova minutos antes da queda da laje ele estava andando entre as vigas e saiu para buscar mais madeiras quando ouviu o barulho promovido pelo desmoronamento. Por sorte nada lhe aconteceu apenas perdeu a mochila que se encontrava em baixo da estrutura. Mas, existe um fato que deixa Antonio chateado e triste. É o fato de não poder ter feito nada para ajudar os colegas soterrados. '' Eu fiquei 21 dias acompanhando as buscas, porém, me mandavam ficar do lado de fora escorando algumas madeiras. Quando tiravam algum corpo, não nos deixavam ver'', descreve.

Em busca de justiça

Desde de 1984,  corre na justiça ações promovidas por familiares das vitimas. Uma dessas famílias é a do Vanderlei Alves da Silva. Seu pai, João, foi um dos operários vitimados pela tragédia. Vanderlei na época com apenas cinco anos viu toda estrutura familiar mudar com a morte de seu pai. Como seu pai era o único que sustentava os cinco filhos pequenos e a mulher com o seu  trabalho  coube a sua mãe exercer  esse papel. Segundo Vanderlei ha cerca de 16 anos ele recebeu uma proposta de R$ 15 Mil Reais, que sua advogada o orientou a recusar.  '' Era uma humilhação, que jamais iria mudar nossa vida''. Situação bem diferente vivida pela família do operário Manoel Firmo de Souza. Sua viúva, Dona Elsa, recebeu em 1980 uma indenização equivalente a R$ 30 Mil Reais.

Mas, existem milhares de outras famílias que estão na justiça tentando obter uma manifestação favorável, dentro de parâmetros considerados justos. Até hoje o governo estadual não consegue informar quantas famílias já foram indenizadas. E lá se vão 43 de uma impunidade que galopa velozmente, deixando envolta em muita poeira a história interrompida de brasileiros anônimos. Nesse ano do 43º aniversário da tragédia da Gameleira, a mim só resta registrar a história para o conhecimento dos jovens que são o presente e o futuro de um país que necessita urgente de uma drástica em sua já carcomida legislação, para que, quem sabe, outros cidadãos que põem as mãos na massa no desenvolvimento dessa nação não tenham suas histórias interrompidas e sepultados no vale tenebroso da injustiça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 

SOBRE O SITE