Temos visto nos últimos meses o Brasil sendo invadido por uma onda
de manifestações populares – movimentos que eclodiram em junho de 2013, quando
tiveram seu ápice – as quais, motivadas por vários setores da sociedade,
passaram a chamar a atenção das autoridades brasileiras por mais investimentos
e melhores prestação de serviços nas mais diversas áreas, entre elas as
principais: contra a Copa, contra a corrupção, por melhor transporte, educação, saúde e segurança. Mas, afinal, qual deve ser
o posicionamento do cristão nesse cenário? Nesse artigo tento traçar o
equilíbrio necessário, buscando respaldo, obviamente, à luz das Escrituras,
nossa regra de fé e de prática
O
Brasil “padrão FIFA” X O Brasil brasileiro
A bem da verdade, foi exagerada a imagem veiculada mundo a fora,
de um paraíso chamado Brasil, em nítido contraponto com a dura realidade e as
necessidades de um povo que luta diariamente para sobreviver ao descaso do
serviço público, mormente nas áreas que aqui mencionamos, por outro lado,
há de se convir que a falta de organização e comando nas manifestações, assim
como o vandalismo que se infiltrou, aliado a proliferação dos temas,
prejudicaram parcialmente o foco e a objetividade do movimento.
A manifestação popular é legítima ferramenta da democracia, e o
governo de plantão sabe muito bem disso, mas o que aqui registro e também quero
refletir com nossos leitores, é a baderna e o espírito de vandalismo que se
infiltrou e tirou proveito do movimento, depredando e danificando o patrimônio
público e privado, saqueando lojas, incendiando ônibus e viaturas, trazendo
total desconforto a todos. Essas atitudes trouxeram perplexidade, angústia,
medo e insegurança à nação como um todo, inclusive à maioria dos manifestantes,
os quais de uma hora para outra se viram em meio a um movimento estranho não
projetado. Aqui em Belo Horizonte, cenas estarrecedoras de depredação de bens
públicos e privados ao longo da avenida Presidente Antônio Carlos, um dos
principais corredores viários da capital mineira, chocaram a população. Por
aqui, tivemos ainda o triste saldo da morte de dois jovens, durante os eventos.
A manifestação popular é um direito líquido e certo do cidadão
que vive em um estado democrático, porém, tais movimentos não podem tolher o
direito de ir e vir dos demais cidadãos não participantes. Vale aqui a máxima:
“O direito de um cidadão termina quando começa o do outro”. Assim como os
manifestantes, muitos outros também não estão satisfeitos com a situação, mas
por decisão própria reagem de maneira diferente, e isso merece respeito.
Se uma manifestação atrapalha o direito de outrem
trabalhar, estudar ou simplesmente se movimentar livremente, como aconteceu nos
últimos dias em toda a nação brasileira, que dirá quando se depreda e deprecia
o patrimônio público que pertence a todos, e pior ainda o particular e privado,
trazendo pequenos ou grandes prejuízos pecuniários a quem quer que seja. A
princípio me parece que a dose foi exagerada, e se a maioria dos manifestantes
nada teve a ver com tais atitudes, com certeza foi prejudicada pela infiltração
de uma minoria mal intencionada. Mas, afinal,...
É
lícito ao cristão participar de manifestações populares?
Volto agora para a realidade cristã que é o meu foco. Como
podemos analisar do ponto de vista bíblico, um cristão participando de um
movimento que promove desenfreada insurreição, prejuízos e danos materiais ao
próximo? Porventura seria isso um “bom testemunho” ou uma ação qualificada como
“boas obras”, para quem foi chamado para ser “Sal da terra e luz do mundo?”
(Mateus 5.13-14)
Por outro lado, seria uma boa associação para um cristão, estar
aliado a outros que tumultuam, denigrem e imprimem prejuízos a terceiros? Onde
fica o conselho bíblico de que “o cristão deve se afastar da roda dos
escarnecedores?” (Salmos 1.1). A turba por tradição age no ímpeto do seu
instinto, sem o menor senso de equilíbrio e moderação. A Bíblia diz: Os homens
escarnecedores alvoroçam a cidade, mas os sábios desviam a ira – Provérbios A
multidão esconde o rosto e a individualidade das pessoas, induzindo aqueles que
estão agrupados em meio à massa humana, a ações que jamais teriam coragem, a
não ser se estiverem sob a sombra do anonimato.
Recentemente a imprensa divulgou amplamente, o arrependimento
declarado de um jovem de classe média, flagrado e reconhecido graças às câmaras
de segurança, quando a multidão enfurecida depredava e tentava invadir a todo
custo a prefeitura de São Paulo. O “leão enfurecido” se tornou uma “ovelha
arrependida” quando do seu depoimento, assumindo seu erro, inclusive prometendo
trabalhar para reparar os danos causados. Não bastasse isso, outro flagrante
desrespeito aos princípios bíblicos, é o enfrentamento com a polícia, que no
caso representa a força do estado, e portanto as autoridades legitimamente
eleitas por nós e constituídas por Deus. A Bíblia diz claramente que devemos orar
pelas autoridades e nos submetermos a ela e se falharmos descumprindo as leis,
estamos sujeitos à repressão imposta.
Bem, entendo que para um cristão verdadeiro, as manifestações
populares também são legítimas, porém, até o ponto que sejam pacíficas e
não atrapalhem ou infrinjam constrangimentos e ou prejuízos aos demais cidadãos
que gozam dos mesmos direitos dos manifestantes, e nem mesmo ao patrimônio
público, uma conquista de toda a sociedade. Se as manifestações pacíficas e sem
os exageros aqui destacados, forem insuficientes para chamar a atenção e mexer
com a sensibilidade das autoridades, de forma que se conscientizem de seus
erros, ainda assim, o enfrentamento do ponto de vista bíblico e cristão não é
recomendado.
Agora, temos sim uma ferramenta eficaz que é a oração do povo de
Deus, o que também é uma ordenança bíblica, até a realização das próximas
eleições. Chegando lá, nosso voto é a ferramenta mais legítima, coerente e
democrática. Será uma espécie de instância maior, à qual os políticos de
plantão terão que se render.
Entretanto, é necessário que as autoridades não confundam bom
testemunho cristão com alienação ou acomodação. Para tanto, os cidadãos
cristãos, tem todo o direito de se utilizarem das ferramentas legais
existentes, através das instituições de fiscalização, como o Ministério
Público, tribunais de conta e de justiça, os quais estão à disposição de todos
e, em última instância, o cristão não deve esquecer que, numa democracia, o
voto é o benevolente fiador que avaliza e torna acessível aos políticos, os
palácios do executivo e as cobiçadas cadeiras do legislativo, mas ao
mesmo tempo, o gatilho que ameaça e, se disparado, assina a “sentença de
despejo” dos “inquilinos do poder” que se manifestam como corruptos,
incompetentes e irresponsáveis para com o povo.
Ao cristão, a Palavra de Deus recomenda equilíbrio em todas as
coisas: “Seja a vossa equidade notória a todos os homens. Perto está o Senhor.”
Filipenses 4.5.
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