Há mais ou menos uns 17 ou 19 anos
(talvez mais...) muitas escolas tinham uma grade de horário e de matérias bem
diferentes das de hoje em dia, naquela época as escolas públicas ainda
ensinavam música aos seus alunos, naquela época não havia aprovação automática,
naquela época a escola pública não era a sucata que é hoje e naquela época
havia uma matéria que sempre me despertou o interesse, mesmo quando ainda não a
estudava, era uma tal de "Educação Moral e Cívica" (a Lei 869
de 12 de setembro de 1969, estabeleceu, em caráter obrigatório, como disciplina
e, também, como prática educativa, a “Educação Moral e Cívica” em todos os
sistemas de ensino no Brasil). Matéria esta, inclusive, considerada "chata"
por muitos.
Duvido que alguém um pouco (tudo bem, muito) mais jovem se lembre, mas os de minha geração com certeza lembram. Para quem não sabe, transcreverei um resumo do que se trata a matéria, retirada de um livro da década de 70: "A educação moral e cívica deve harmonizar tradição com progresso, a segurança com desenvolvimento. O civismo deve empolgar os jovens diante dos inúmeros problemas a serem enfrentados e que necessitam de um verdadeiro espírito de civismo, que compreende um diálogo entre os cidadãos de um país e, numa outra dimensão o diálogo entre nações." Ou seja, a matéria nada mais era um conjunto de normas e condutas que tinha o intuito de formas cidadãos, mas o que mais chamava a atenção é que esta matéria era direcionada a alunos do primeiro grau, atual ensino fundamental.
Para se ter uma ideia, tal matéria abordava diversos assuntos temas como educação, consciência, caráter, virtudes, vida social, direitos e deveres, dentre muitos outros. Revendo um antigo livro da matéria (o livro é da década de 80), logo nas primeiras páginas você já é tomado oito páginas onde se resumem perfeitamente os deveres cívicos e morais de qualquer cidadão, ainda há também duas páginas dedicadas a explicar os conceitos de educação, moral e civismo. Vendo o livro mais a fundo pode-se ver que ele vai bem mais a fundo no que se dispõe a formar um cidadão, informando não apenas sobre os deveres do cidadão para com sua pátria, mas também ensinando valores e virtudes como respeito ao próximo, respeito às autoridades, ensinando a importância da educação e do caráter na formação de uma pessoa. Entoar de cor o Hino Nacional enquanto a bandeira era hasteada, saber de cabeça todas as datas comemorativas importantes, saber os sinais de trânsito, eram coisas simples que se aprendiam com Educação Moral e Cívica, pois até mesmo tínhamos de saber a constituição brasileira.
O ser humano é racional, portanto, é capaz de pensar e refletir sobre
os seus atos e suas consequências. Mesmo assim, inúmeras reportagens noticiam
de maneira estrondosa os crimes contra a natureza (o tráfico de animais
silvestres, o desmatamento da mata nativa e a poluição das águas); crimes
contra a infância (trabalho escravo infantil e abusos sexuais); violência nas
ruas e nos estádios de futebol e a precariedade do sistema público de saúde.
Estes são apenas alguns exemplos! Infelizmente, tais assuntos se tornaram frequentes
em nosso dia-a-dia. Devemos ter em mente que fazemos parte de uma sociedade,
portanto, nossas ações devem favorecer o bem-estar de todos. Não estamos
tratando de um comportamento altruísta, mas sim, de respeito para com o
próximo. Então, por que sofremos com tantas atrocidades? Por que as
sociedades estão cada vez mais presenciando cenas que não deveriam fazer parte
do cotidiano? Seria uma questão de inversão de valores? Para todas as perguntas
acima, consigo pensar em uma única resposta: falta de valores morais.
A “Educação Moral e Cívica” tinha muitas finalidades, dentre elas
o fortalecimento da unidade nacional e do sentimento de solidariedade humana, o
aprimoramento do caráter, com apoio na moral, na dedicação à família e à
comunidade e o preparo do cidadão para o exercício das atividades cívicas com
fundamento na moral, no patriotismo e na ação construtiva, visando o bem comum.
Mas, os anos passaram e a disciplina foi extinta de maneira equivocada (e
inexplicável) do currículo escolar.
A disciplina retratada acima não queria nem adestrar nem
catequizar as pessoas, mas sim, estimular a reflexão do pensamento voltado aos
valores éticos e morais. É evidente que a escola não é a única responsável. Ela
é parte de um todo que contribui para a formação e informação das pessoas.
Neste processo, a família exerce papel fundamental, uma vez que ela é o
primeiro grupo social de qualquer indivíduo. Com isso, na família construímos
nossos valores morais e éticos. Com o tempo, tais valores são lapidados de
acordo com o fluxo das influências, que podem ser positivas ou negativas.
Estamos
em ano eleitoral e quantos não são os brasileiros completa ou parcialmente
ignorantes sobre seu dever cívico no que tange à política? E não é só isso. A
falta de conhecimento da nossa Constituição – a Carta Magna da nação? Jovens
(até em nível acadêmico) completamente alienados e reféns da própria ignorância.
Por isso faço parte de um grupo (não pequeno, graças a Deus) que clama pelo
retorno da disciplina Educação Moral e Cívica como ensino obrigatório na grade
curricular das escolas públicas municipais e estaduais.
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