A Internet é tão persistente quanto potente, uma presença indelével e
incontida na cultura. De fato, a Internet nem está separada em absoluto da
cultura; é a cultura. Todo o lixo, refugo e dejetos de nossa sociedade ali
encontra o seu espaço, um quase habitat natural, e a menor das obsessões
encontra ali o seu nicho, juntamente com as boas novas do Evangelho, obras
caritativas e pores-do-sol. A Internet permite que um milhão de flores
desabrochem, bem como um milhão de ervas daninhas.
Parábola da vida real
O dia havia sido longo e
agitado, mas finalmente José (nome fictício) estava sozinho no seu escritório
em casa. Estava bastante cansado após oito horas de infindáveis reuniões na
Igreja. Ao mesmo tempo estava contente pelo que vinha conseguindo realizar. Seu
grupo de jovens estava aumentando, e a congregação lhe dera muitos tapinhas nas
costas. O sentimento geral era de que José – o líder de jovens em sua igreja – estava
fazendo uma diferença positiva com os jovens. Ele se sentia bem com isso. José
atirou o paletó sobre uma poltrona num canto e acomodou-se diante de seu
computador portátil para desfrutar uns poucos minutos "só dele". Após
alguns cliques – ali estavam suas amigas: mulheres posando eroticamente,
pessoas fazendo sexo das formas mais esquisitas, bizarras mesmo. Ele partia de
um site da Internet para outro como que hipnotizado. A luz de mensagens de seu
telefone piscava e uma pilha de cartas aguardavam sua atenção, mas ele não
conseguia afastar-se do computador. Como que “por encanto”, José já estava com
a direita dentro da calça, com os olhos estatelados no monitor. Todos os amigos
de Jerry imaginavam que ele era o exemplo do sucesso: “O irmão Zé é uma
benção!” Em seus 30 e poucos anos tinha uma bela esposa, duas filhas pequenas e
um lar confortável. Qualquer fotógrafo teria orgulho de exibir uma foto da
família de José em seu estúdio. Família tipo comercial de margarina.
Profissionalmente, José estava em alta demanda como orador por toda a região e
mesmo pelo estado. Mas José era também um viciado, dependente, dominado pelo
sexo, obcecado pela pornografia virtual.
O escopo do problema
A pornografia online é
imensa, de facílimo acesso e gratuita. Paradoxalmente tornou-se uma das formas
mais lucrativas de comércio no disputadíssimo campo das “pontocoms”.
Estimativas de ganhos anuais situam em um bilhão ou vários bilhões de dólares.
O número de pessoas que visitam sites sexuais cada dia tem sido estimado em 60
milhões. Juntos, os cinco sites pornográficos mais freqüentados na Internet
recebem mais visitas do que os grandes sites noticiosos MSNBC.com e CNN.com
combinados. Todos esses sites estão disponíveis cada minuto do dia e são fáceis
de encontrar – bastando somente poucos cliques no teclado do computador e alguns
segundos para sua localização. A pornografia virtual é tão ampla que
provavelmente é certo dizer que veio para ficar. Provavelmente jamais será
bloqueada, apesar de em alguns países seu acesso ser mais controlado, como no
Reino Unido, por exemplo. Todo dia, aproximadamente 400 novos websites
pornográficos são abertos na rede mundial de computadores a partir de locais
como a Tailândia e a Rússia (este, considerado o paraíso da pornografia). As
boas novas são que a recuperação do vício da pornografia virtual é possível.
O que vem a ser vício sexual?
Pessoas que não são
sexualmente viciadas – eu as chamarei "normais" – são capazes de
desfrutar uma experiência sexual de tempos em tempos e daí dar atenção a outras
coisas. Também são capazes de dizer não quando se sentem sexualmente excitadas
mas não há possibilidade para atividade sexual. O viciado sexual, por outro
lado, está continuamente obcecado com pensamentos e emoções sobre sexo, e seu
comportamento é controlado por seus impulsos sexuais. (Eu me referirei a
viciados sexuais como homens neste artigo, uma vez que a maioria dos viciados
sexuais são do sexo masculino. Contudo, algumas mulheres de fato se tornam
também vítimas de vício sexual, e as recomendações neste artigo são igualmente
válidas para elas). Todas as dependências são caracterizadas por esta
incapacidade da parte do dependente em dizer não a seus impulsos ao vício. Se o
viciado sexual sente que "tem que fazê-lo" ele o fará. Não importa
quão ameaçador seja o seu comportamento para a sua família, sua profissão ou
mesmo sua vida, as emoções do viciado sexual o compelem a agir segundo os seus
desejos. O fundamento de todo vício sexual é a lascívia. Contudo, lascívia não é emoção
sexual ou desejo sexual. Lascívia é usar outro ser humano para a própria
gratificação sexual.
A lascívia não requer contato físico com outra pessoa. Uma fotografia ou mesmo
imagem mental do objeto desejado é suficiente para detonar a lascívia na mente
do viciado. É por isso que a pornografia – seja em papel, na TV ou Internet – é
um instrumento tão poderoso para a lascívia. Propicia as imagens que a
alimentam. A pornografia virtual é particularmente viciadora porque o viciado
não precisa dirigir-se a uma banca de revistas ou livraria para apanhar
publicações pornográficas. Ele pode acessá-la na privacidade de seu lar. Não há
exposições constrangedoras. Uma vez que a pessoa esteja enredada, geralmente
descobre que não consegue sair do seu vício por si mesma. Pode fazer milhares
de promessas a si ou aos familiares, ou a Deus, de que vai parar, contudo mais
cedo ou mais tarde está de volta praticando o seu vício. Significa isso que está condenado a permanecer para sempre preso a isso?
Absolutamente não!
O fator Deus - Tratando o pecado
O ponto de partida é
lidar com a lascívia. Contudo, o viciado deve reconhecer que o desejo de utilizar
outra pessoa para gratificar os seus impulsos sexuais tem um domínio tão
tremendo sobre ele que não consegue escapar por si só. Carece de auxílio divino
e de pelo menos um amigo que teve a experiência de lidar com a obsessão sexual.
Muitos viciados oram desesperadamente a Deus para os libertarem – sem
resultado, porque não estão orando da maneira correta. A fim de que Deus lide
com a lascívia, o viciado deve convidar a Deus para ocupar sua mente e pedir
que lhe remova esse poderoso desejo por lascívia. Uma boa oração deve ser
assim: "Deus, sou impotente sobre esse vício. Dou-Te permissão de
removê-lo". Também é de ajuda agradecer a Deus por remover a lascívia:
"Obrigado por remover essa lascívia de minha mente e emoções". Não é
necessário esperar até que o desejo lascivo seja removido para agradecer-Lhe
por fazê-lo. Proferir essa oração pode ser muito difícil, de fato penoso,
porque a lascívia é o que o viciado tanto aprecia. O viciado pode lidar com
isso pedindo a Deus, quando não se acha sob tentação, para dar-lhe "o
poder para rogar a Tua ajuda na próxima vez que eu for tentado à
lascívia".
Respeito
O oposto da lascívia é o
respeito. A lascívia desumaniza uma mulher (ou um homem na mente viciada de uma
mulher) por valer-se dela como objeto para gratificar os próprios impulsos
sexuais. O respeito significa valorizar uma mulher como ser humano que merece
ser tratado com alta consideração, e merece ser protegido, antes que abusado.
(O viciado está abusando de uma mulher em sua mente quando pensa lascivamente
nela, mesmo que não chegue a tocá-la). Assim, como pode o viciado aprender a
respeitar pessoas do sexo oposto, em lugar de usá-las como objetos para
satisfazer a seus desejos ilegítimos? Por orar por elas no momento exato em que
as está vendo: "Deus, por favor, proteja essa mulher de qualquer mal. Leva
o Espírito Santo para a vida dela. Sejam quais forem os problemas que ela
esteja defrontando hoje, abençoa-a com as respostas que sabes serem as melhores
para ela". Essa oração coloca a Deus bem no meio dos desejos lascivos do
viciado e começa a desmontá-los. Esteja a mulher que está contemplando numa
foto diante dele, ou na vida real, ele não pode orar desse modo sem que sua
atitude para com ela comece a mudar. E ao persistir em orar por uma mulher após
outra, no devido tempo ele descobrirá que o seu respeito pelas mulheres
começará a crescer.
O fator humano - Tratando a doença
Os viciados carecem
também do auxílio de outros seres humanos. A pessoa cujo comportamento sexual é
normal pode provavelmente empregar as sugestões acima para desfazer a tentação
de fantasiar a respeito do sexo oposto. Contudo, a pessoa cujo comportamento
esteja fora de controle precisa do auxílio que é propiciado pelo programa de
Doze Passos. Afortunadamente, grupos de Sexaholics Anonimous (que pode ser livremente
traduzido por “sexólicos anônimos”) estão sendo estabelecidos na maioria das
grandes cidades dos EUA e Canadá, e muitos estão disponíveis em áreas rurais
também. Há duas vantagens em participar dos grupos de Doze Passos. Primeiro,
todos os membros são profundamente comprometidos com a confidencialidade. Em
segundo lugar, o viciado encontrará apoio e simpatia de outros que compartilham
de seus problemas e passaram pela experiência de rompê-los. Alguns
viciados podem estar tão intoxicados que podem requerer terapia formal. Estes
devem ir em busca de profissionais especializados e licenciados. Alguns talvez
requeiram até internamento clínico. Um grupo de SA ou patrocinador de SA pode
encaminhar o viciado a essas fontes de tratamento. As igrejas cristãs podem
ajudar abrindo suas portas para reuniões dos Doze Passos. Se várias igrejas
numa cidade o fizessem, os viciados que temem assistir a uma reunião em sua
própria igreja poderia atravessar a cidade para outra reunião onde se sentiriam
mais à vontade. Os que temem que essas reuniões de recuperação não sejam
espirituais se comprazerão em saber que elas possuem um forte componente
espiritual. As boas novas são que há uma saída para os viciados sexuais – sejam
dependentes da pornografia on line ou aos muitos outros canais para
comportamento sexual inapropriado que estão disponíveis em nossa sociedade.
Requer o poder de Deus, o auxílio de outros seres humanos, e um comprometimento
a esforço persistente e penoso da parte do viciado. Mas onde esses três elementos
são combinados, a vitória é certa.
Isso é uma forma de
praticar o evangelho de Cristo! Não basta apenas jogar a pessoa no meio de uma
“rodinha de libertação” e/ou dizer que é “coisa do capeta” e pronto. Lascívia é
obra da carne e deve ser tratada como tal, através de uma ação perene e
constante do Espírito.
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