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sábado, 1 de fevereiro de 2014

Hipocrisia fora do armário

Enfim, o beijo gay

O tão alardeado, esperado (por muitos) e temido (por outros tantos) primeiro beijo gay entre homens em uma novela da Globo aconteceu no último capítulo de “Amor à Vida” - conforme já havia sido ventilado pela imprensa e não confirmado pela emissora que guardou a “surpresa” para os momentos finais da novela - nesta sexta-feira, 31, e deu o que falar nas redes sociais.

Realmente deve mesmo ter sido um momento histórico, com toda família reunida em frente de seus enormes aparelhos com imagem em alta definição exibindo a linda cena de amor entre o casal homo afetivo. E eis que na penúltima cena da trama, Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) estão na casa da família na praia e dão um beijo e depois um selinho. O romance entre os dois personagens já havia sido consumado, inclusive com a presença de filhos adotivos - dois meninos, obviamente, para que (conforme mote das campanhas dos ativistas gays e simpatizantes da causa gay) sejam quebrados tabus e preconceitos.

Foram gravadas três possibilidades da tão esperada cena para dar à direção da emissora o direito de escolha após análise. As outras versões foram com um beijaço e outras com apenas trocas de carícias, sem que os lábios se tocassem. A cúpula da emissora, após uma "criteriosa" análise, optou pela cena que foi ao ar. Não foi um beijo, mas um toque de lábios que durou uns 20 segundos. Certamente não era "só isso" que os "libertários" esperavam, mas já foi um começo. Afinal, outras novelas virão e na nova trama "Em Família", tcham-tcham-tcham!, lá está o casal gay, dessa vez, de lésbicas, formado pelas atrizes Giovanna Antonelli e Tainá Müller.

A Evolução

A presença de gays em novelas já não foi assim tão bem aceita quanto vemos em dias atuais. Houve uma verdadeira evolução. Em 1981, na novela "Brilhante", de Gilberto Braga, o personagem Inácio Newman, interpretado por Dênnis Carvalho, era homossexual, mas devido à censura que ainda vigorava no país, o assunto era tratado de maneira subjetiva. Em 1988, o mega sucesso "Vale Tudo", também de Gilberto Braga (coincidência?), trazia um casal de lésbicas, mais, digamos, declarado. Eram Laís (Cristina Prochaska) e Cecília (Lala Deheinzelin), que, inclusive, viviam juntas e eram donas de uma pousada em Angra dos Reis. Apesar de não estar mais sobre o peso da recente sepultada(?) censura, o autor segurou a onda e também não trouxe nada mais explícito das amantes.

Corremos mais alguns anos e chegamos em 1998 e na trama "Torre de Babel", de Sílvio de Abreu, novamente tem um casal de lésbicas. Nessa novela aconteceu algo que gerou muita polêmica. A explicites do relacionamento entre as personagens Rafaela Katz (Christiane Torloni) e Leila (Sílvia Pfeiffer) foi rejeitado pela maioria do público, o que levou o autor - no capítulo 45, exibido em 15 de julho de 1998 - a literalmente explodir com as duas junto com o shopping, a tal torre de babel, núcleo da trama. 

A Globo já quase exibiu beijo entre dois homens algumas vezes ao longo dos últimos anos. Em 2005, a emissora decidiu não colocar no ar uma cena, que chegou a ser gravada, entre os personagens Junior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) da novela “América”, de Glória Perez. Na época, a Globo chegou a divulgar um comunicado dizendo que “a direção determinou uma mudança na versão escolhida, optando pela abordagem que julgou mais apropriada para exibição numa novela das oito. Com a certeza de que em nada prejudicou a mensagem geral que a autora passou sobre o tema”. O veto causou reações de revolta e aprovação e levantou a hipótese de um protesto com um beijaço em frente à sede da Globo no Rio. Ontem, Walcyr Carrasco pode levantar o "troféu de vencedor" no ranking da destruição da moral e dos bons costumes.

O cúmulo da hipocrisia

Em 2011, Toni Reis, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) enviou carta à Globo questionando o veto à exibição de uma cena, que tinha sido gravada, de um beijo gay na minissérie “Clandestinos – O Sonho Começou”.

Na resposta, a Globo disse que, “não cabe [à emissora] promover institucionalmente o beijo gay, assim como não cabe promover o beijo hetero, nem dizer ao autor como ele deve contar a sua história”. Além disso, no entendimento da emissora, a causa é a diversidade e o respeito às diferenças, e não seria a teledramaturgia o ambiente adequado para levantar bandeiras de questão moral no campo da sexualidade. Ah, é? Então tá!

O SBT saiu na frente e exibiu o primeiro beijo gay de uma novela brasileira, em 2011, na novela “Amor e Revolução” entre as personagens Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre). A cena do beijo durou 40 segundos. Talvez, por ter sido na emissora do Silvio Santos, que, convenhamos, não tem nenhuma expressão na teledramaturgia ou por ter sido um beijo entre duas mulheres (inexplicavelmente a homossexualidade feminina é mais bem aceita pela sociedade), o episódio não chamou muito a atenção do público, apesar de ter sido amplamente divulgado pela imprensa em todas as suas plataformas midiáticas.

"Normal"? - E a família, como fica nessa história?

O beijo gay entre Felix e Niko está bombando nas redes sociais e, certamente ainda dará muito o que falar. Vou terminar meu artigo deixando algumas perguntas para reflexão: Teria sido mesmo necessária que a tal cena fosse ao ar? A Rede Globo não tem mesmo levantado bandeiras de questões acerca da diversidade? Teria sido a família ofendida em seus preceitos de moral e bom costume ou o comportamento gay já é considerado normal, aceitável? Lembrando que devemos respeito a TODAS as pessoas, independente de sua opção sexual, entretanto, mesmo respeitando, não somos obrigados a aceitar seu comportamento.  Que cada um, pois, tire suas conclusões. Mais do que nunca vale o que está escrito em Romanos 12:2 "E, não vos conformeis com o presente século, mas transformai-vos através da renovação de vosso entendimento."

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